Síndrome da fadiga crônica
A síndrome de fadiga crônica (SFC) é velha conhecida da reumatologia e pode aparecer após infecções, após estresse físico ou estresse psicológico, em muitos pacientes não parece ter uma causa identificável. Tipicamente ocorre após infecções virais como na dengue, mononucleose infecciosa, hepatites, Chikungunya e também após outras doenças infecciosas como na toxoplasmose, malária e infecções bacterianas graves. Na reumatologia consideramos essas infecções como gatilho para o desenvolvimento da síndrome. Dentre as causas infecciosas aproximadamente 10% dos pacientes que tiveram essas infecções desenvolvem a síndrome da fadiga crônica (SFC) os pacientes mais acometidos frequentes estão entre 35 a 60 anos de idade e é mais comum em mulheres.
Síndrome da fadiga crônica após a COVID-19
Atualmente ganhou destaque e com grande procura nos consultórios a síndrome da fadiga crônica nos pacientes que adoeceram de Covid-19. Os sintomas muitas vezes aparecem logo após a cura da Covid ou simplesmente são continuação do quadro clinico causado pela doença em si. Os sintomas principais da síndrome que se destacam são o cansaço, dores nas articulações, taquicardia, alteração de memória, sensação de falta de ar, fadiga física, fadiga e cansaço mental, dores musculares, alterações do sono, humor depressivo, boca seca, alterações gastrointestinais. Os pacientes sentem desanimo e o desejam permanecer descansando ou deitados, o que gera dificuldades no trabalho e na lida cotidiana. Assim como nas outras causas da síndrome da fadiga crônica, esses sintomas duram em torno de 08 meses a 12 meses. A síndrome da fadiga crônica após a covid tem sido erroneamente considerada por pacientes, leigos como persistência ou recaída da doença Covid -19, outros interpretam como uma nova infecção pelo corona vírus gerando mais angustia e aumentando o sofrimento físico e psíquico desses pacientes.
Fisiopatologia da síndrome da fadiga crônica pós infecciosa
Na sua fisiopatologia sabemos que após essas infecções ocorrem a produção de anticorpos de forma desordenada pelo sistema imunológico, esses autoanticorpos são dirigidos contra receptores que estão localizado em diversos órgãos do corpo. O estimulo ou bloqueio desses receptores pelos anticorpos produzem essa imensa variedade de sintomas. Existem receptores de acetilcolina que estão na placa neuro motora (união nervosa com os músculos), nervos periféricos e cérebro, os receptores adrenérgicos estão presentes no coração, pulmões, vasos sanguíneos e muitos outros órgãos. A dor, a fadiga e alterações do sono provocam alterações emocionais igual que ocorrem na fibromialgia, mas sabemos que existe interações desses anticorpos com áreas cerebrais relacionadas as dores e as emoções.
Diagnóstico
O diagnóstico da síndrome da fadiga crônica (SFC) é eminentemente clínico, não existe, portanto, exames para diagnóstico laboratorial. Devemos colher uma boa história clínica e realizar um bom exame físico para diferenciação de outras doenças.
Diferenciamos a síndrome de fadiga crônica da fibromialgia pelo tempo de evolução, a SFC é autolimitada durando de 8 a 12 meses enquanto a fibromialgia não desaparece, na fibromialgia não há febre e as provas inflamatórias são normais. Exames de sangue e de imagem podem ser solicitados para diagnóstico diferencial, visando descartar doenças mais graves que cursam com sintomas parecidos, no idoso é importante descartar doenças tumorais e nos jovens doenças inflamatórias. Na COVID-19 a síndrome é mais frequente e mais intensa naqueles pacientes que tiverem acometimento pulmonar extenso.
Tratamento medicamentoso
Analgésicos: utilizamos para a dor articular e muscular analgésicos simples como a dipirona e paracetamol, em alguns casos analgésicos mais potentes como a codeína e tramadol. Devemos evitar o uso de anti-inflamatórios e corticoides pelo risco de efeitos colaterais.
Antidepressivos: utilizamos essa classe de medicação com dupla finalidade, utilizamos os antidepressivos que possuem efeito na dor e que também melhoram o humor do paciente. Os antidepressivos mais utilizados para essa finalidade é a nortriptilina, duloxetina e venlafaxina e são vendidos com receituário especial. A automedicação nāo deve ser realizada, medicamentos como paracetamol podem levar a hepatite medicamentosa.
Exercícios físicos e reabilitação
Os exercícios e a abordagem medicamentosa se complementam, devemos preferir exercícios aeróbicos como caminhadas, exercícios aquáticos e pilates. Devemos orientar o paciente, preparador físico ou fisioterapeuta para iniciar os exercícios de forma bastante leve e ir progredido a intensidade lentamente, esses pacientes entram em fadiga muscular facilmente.
Considerações finais
Recordamos que a síndrome da fadiga crônica não é exclusiva da COVID -19, porém a pandemia aumentou o número de pacientes, esses casos merecem atenção tanto médica como psicológica, reforço a necessidade de diagnóstico diferencial com a fibromialgia e com doenças graves como tumores em idosos e doenças inflamatórias nos mais jovens. Caso você ou familiar apresente sintomas como cansaço que não melhora após período de descanso, fadiga, gânglios cervicais dolorosos, dores no corpo e alterações de humor, você pode estar com a síndrome da fadiga crônica! Procure um médico de sua confiança, converse com ele sobre essa possibilidade, caso seja confirmada a síndrome de fadiga crônica seja otimista pois ela tem tratamento, é auto limitada e tende desaparece após 12 meses.
Marco Túlio
Médico, especialista em reumatologia, reumatologia pediátrica e dor.
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