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O papel do exercício físico nos pacientes com reumatismo

O papel do exercício físico nos pacientes com reumatismo

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O papel do exercício físico nos pacientes com reumatismo

Dr. Marco Túlio Muniz Franco CRM 994 RQE 204 É reumatologista com especialização no Hospital Gaffrée e Guinle da Universidade Federal do estado do Rio de Janeiro (UniRio) e atualmente Conselheiro Federal suplente pelo Amapá.

Os pacientes reumáticos são mais propensos a inatividade física e sedentarismo impactando diretamente na expectativa de vida e no bem-estar.
A atividade física, hábitos saudáveis aliados ao acompanhamento médico são fundamentais para a melhora das doenças reumáticas. A atividade física melhora a mobilidade, o equilíbrio, reduz o estresse, melhora provas inflamatórias promovendo o bem-estar dos pacientes, por outro lado previne o aparecimento de novas doenças, prevenindo a morte prematura, fraturas, acidente vascular, obesidade, diabetes, hipertensão arterial e canceres.
Por definição atividade física é qualquer movimento executado pela musculatura esquelética que implique em um gasto energético acima do basal (repouso), inclui desde varrer uma calçada a esportes extremos.
Exercício físico é uma atividade física sistematizada com objetivo de ganho de condicionamento físico.
O esporte é um conjunto de exercícios físicos com objetivos de alcançar resultados ou ganhar pontos ou disputas.
Mesmo os pacientes com limitações impostas pelas doenças reumáticas obtêm grandes benefícios com a atividade física, porem devem ser acompanhados por um profissional habilitado.
É imprescindível a interação do médico reumatologista com os profissionais que atuam diretamente com o paciente, o fisioterapeuta e o educador físico.
É necessário avaliação cardiológica previa em pacientes com doenças crônicas.
O papel do educador físico é ensinar o modo mais eficiente de praticar exercícios, estando sempre atento para evitar contusões e lesões.
O papel do fisioterapeuta é executar métodos e técnicas fisioterápicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do paciente.
Pacientes frágeis ou com lesões articulares, devem ser encaminhados para a atividade física após a reabilitação fisioterápica.
Pacientes jovens com doenças em fases iniciais, pacientes que já praticam exercícios, pacientes com fibromialgia com sintomas leves a moderados, pacientes bem conhecidos e com doenças bem controladas podem ser encaminhados diretamente ao educador físico.
Obstáculos na realização de exercícios pelos pacientes reumáticos 
Devemos explicar os benefícios e vencer as barreiras, podemos citar alguns obstáculos, entre eles:
A sensação de comportamento inapropriado, ou seja, o paciente acredita que a academia não é um lugar para ele.
Percepção de incapacidade física maior que a real, por exemplo os “problemas de coluna “ que na cabeça do paciente e de alguns profissionais de saúde seja uma contraindicação absoluta a atividade física.
A crença que os exercícios são lesivos, por desconhecimento ou por mitos.
A barreira econômica é um limitador comum na nossa realidade, porem existem centros de reabilitação públicos com profissionais capacitados como o Creap, Rede Sarah, Cerpis e o centro de Reabilitação em Santana. Treinos adaptados ao ar livre são gratuitos.
Pré-requisitos para a Prescrição dos exercícios nos pacientes reumáticos
A doença deverá estar estável e em tratamento, não necessariamente totalmente controlada ou em remissão.
Avaliação do risco cardiovascular. É fundamental a avaliação cardiológica previa.
Avaliar o risco biomecânico. É individualizado para cada paciente e de acordo a sua patologia. É importante que o médico informe para o profissional se o paciente requer algum cuidado especial.  A interação profissional é fundamental.
Prescrição dos exercícios nos pacientes reumáticos
A prescrição nos pacientes reumáticos deve conter as quatros modalidades:  treino aeróbico, treino de flexibilidade, de força e neuromotor e serão montados de acordo com a expertise do fisioterapeuta ou do educador físico.
A frequência, a intensidade, a duração dos treinos são decididas pelo profissional que assiste o paciente, o volume e progressão do exercício é decidida de acordo ao ganho de condicionamento do paciente.
Exercícios nas principais doenças reumáticas 
Osteoporose
A osteoporose é uma doença na qual há redução na densidade e qualidade óssea favorecendo fraturas. A osteoporose tem grande impacto na mortalidade e gera custos elevados para a sociedade e serviços de saúde.
O exercício físico no jovem promove ganho de massa óssea que será importante para toda a vida.
Na mulher pré-menopausa o exercício promove ganho e manutenção da massa óssea. 
Na mulher pós-menopausa o exercício promove ganho de massa óssea, melhora o equilíbrio prevenido quedas e fortalece a musculatura que protege o esqueleto.
No idoso o exercício reduz as quedas através da melhora do equilíbrio, fortalece a musculatura e promove a manutenção da massa óssea.
Os Tipos de exercícios indicados devem ser individualizados, preferindo os de melhora adesão pelo paciente.
 Exercícios de impacto: Podem ser de alta intensidade (saltos), moderada intensidade (corrida, pular, ciclismo elíptico), baixa intensidade (caminhada). Devem ser estimulados no jovem, nas mulheres pré e pós menopausa e idosos não frágeis individualizando caso a caso.
 Exercícios de resistência:  A musculação pode ser estimulada em toda população
 Exercícios aeróbicos devem ser estimulados em toda população como o ciclismo, natação e caminhada
 Treinos de equilíbrio devem ser indicados nas mulheres pós menopausa e nos idosos.
 Os exercícios em plataforma vibratória também são utilizados.
 Os exercícios aquáticos são indicados para melhora do equilíbrio e pacientes que possuem outras doenças como artrose nos joelhos e com mobilidade reduzida.
Os exercícios de impacto e resistência são os mais eficientes porem é importante fazer mais de dois tipos de exercícios (multimodais)
Na osteoporose estabelecida deve-se contraindicar exercícios que flexionam o tronco como por exemplo as series de abdominais, podem precipitar fraturas devido a fragilidade das vertebras.
Fibromialgia
Na fibromialgia o reconhecimento precoce da síndrome permite abordagem não medicamentosa com psicoterapia e melhora do condicionamento físico com exercícios e esportes.
Na fibromialgia já estabelecida os pacientes apresentam desempenho físico prejudicado e força muscular abaixo da média o que deve ser levado em conta pelo educador físico e fisioterapeuta na programação das series de exercícios.
Os pacientes com fibromialgia possuem uma intolerância ao exercício, logo o início deve ser lento e gradual, a fadiga costuma ser tanto física como mental.
A perda de peso, a melhora do condicionamento, a liberação de endorfinas endógenas produzidas pelos exercícios é sem dúvida a principal arma contra a fadiga, contra a insônia e auxilia na redução das medicações.
A liga Europeia contra reumatismo (EULAR) recomenda iniciar treinamento cardiovascular nos pacientes com fibromialgia com treinos aeróbicos, três vezes na semana durante 20 minutos cada sessão.
Na pratica clinica sugerimos exercícios mistos aeróbicos, de força e flexibilidade de início gradual e intercalado. Exercícios aquáticos e pilates são bem tolerados e podem ser incluídos.
Sempre recordando que o paciente acometido de dor e fadiga não tolera treinos extenuantes.

Em geral após 08 a 10 semanas o benefício do exercício é percebido pelo paciente com melhora da fadiga, dor, insônia e melhora do humor.

O ideal que o paciente inicie atividade física regular logo após o diagnóstico e iniciado o tratamento. O alongamento e o treino de força muscular previnem a redução da mobilidade e evita deformidades. Pacientes com acometimento mais intenso dos joelhos, pés e quadris devem evitar caminhadas longas e a corrida é contraindicada. A Bicicleta, elíptico, musculação e natação são bem tolerados.  O Treino aeróbico, controla peso, pressão arterial, melhora níveis de colesterol e glicose reduzindo risco de infarto e diabetes. O exercício ajuda a prevenir os efeitos deletérios do corticoide como a diabetes, obesidade e osteoporose.

Osteoartrite (Artrose) de joelhos e quadril
O paciente com lesão nessas articulações poderá realizar exercícios que poupem essas articulações de sobrecarga. Esses pacientes devem evitar caminhadas medias a longas e em superfícies irregulares, a corrida é formalmente contraindicada. Individualizando cada caso é possível indicar exercícios aeróbicos e anaeróbicos como natação, hidroginástica, bicicleta, musculação com series de grupos musculares estabelecimentos pelos profissionais. Perde-se de peso, e o reforço muscular ajuda a manter a funcionalidade da marcha, evitando ou retardando a indicação de próteses articulares.
Problemas na coluna vertebral 
Existe um excesso na realização de exames de imagem em pacientes com dores agudas na coluna, a ressonância magnética é um exame bastante sensível e muitas vezes identifica pequenas hérnias, protrusões discais que não são a causa verdadeira da dor gerando confusão diagnostica e afastando os pacientes da atividade física, a lombalgia postural ou por falta de condicionamento perde seu principal remédio, o exercício físico.  Mesmo nos pacientes com hérnia discal “verdadeira” os exercícios não estão contraindicados, o paciente deverá seguir orientações dos profissionais para melhora da mobilidade, melhora da musculatura e da dor. Na artrose da coluna (bico de papagaio) exercícios que melhoram a flexibilidade promovem melhora da dor. Nas hérnias e artrose de coluna exercícios aquáticos e pilates são bem tolerados e podem ser incluídos. No caso de fraturas na coluna por osteoporose deve-se contraindicar exercícios que flexionam o tronco por exemplo as abdominais. O sedentarismo piora as dores na coluna e promove outras doenças como a obesidade.
Lúpus eritematoso sistêmico 
Os pacientes em remissão (doença adormecida) não possuem contraindicações e após liberação do reumatologista e avaliação cardiológica podem realizar qualquer exercício, não esquecendo de evitar a exposição ao sol prolongada e o uso de protetor solar, bonés, camisas com mangas compridas, esportes ao ar livre nos horários de menor radiação solar, ou seja, pela manhã, final da tarde ou à noite. Os Pacientes com baixa a moderada atividade de doença também podem realizar os exercícios porem evita-se exigência física intensa como treinos extenuantes, maratona etc. .  O médico e o educador físico devem orientar e impor limites de acordo ao estado de saúde e condicionamento individual de cada paciente. Treinos em academia são preferidos para evitar exposição solar.
Pacientes com lúpus possuem grande benefício com a realização de exercícios aeróbicos e anaeróbicos promovendo perda de peso, diminuição dos efeitos colaterais do corticoide, prevenção da osteoporose, da diabetes, diminuição dos níveis de colesterol e triglicérides assim reduzindo risco de infarto e acidente vascular encefálico. Os pacientes com doença com elevada atividade podem realizar séries de alongamento e trabalharem grupos musculares específicos com a orientação multiprofissional sem exaustão.
O paciente com lúpus eritematoso sistêmico deve perseguir a remissão da doença (adormecimento), realizando regularmente suas consultas, com uso correto de suas medicações, evitando a exposição solar, uso do protetor solar e mantendo hábitos saudáveis.
Fontes consultadas 
Exercício físico nas doenças reumáticas Autor: Pinto, Ana Lúcia de Sá – Gualano, Bruno – Lima, Fernanda Rodrigues – Roschel, Hamilton Editora: Sarvier
Congresso Brasileiro de Reumatologia 2021 , Aulas dos reumatologistas Dra. Fernanda Rodrigues Lima (SP), Taciana Paula de Souza Stacchini (SP), Danielle Resegue Angelieri (SP).
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